Não se deve esperar de Bugonia a mesma intensidade inquietante das obras anteriores de Yorgos Lanthimos, mas talvez seja o filme mais divertido para o público desde A Favorita. O diretor aposta no remake de um filme sul-coreano, uma comédia de ficção científica confortável e abertamente previsível, transformando o absurdo das teorias conspiratórias em um caos narrativo envolvente.

A trama acompanha Tedd (Jesse Plemons),um empacotador de uma empresa de entregas que acredita que todos os problemas da sua vida serão resolvidos quando ele conseguir se comunicar com o imperador de uma raça alienígena infiltrada na Terra. Convencido de que esses seres têm planos nefastos, ele decide agir “para salvar o mundo”. Com a ajuda do primo Don (Aidan Delbis), Tedd sequestra Michelle Fuller (Emma Stone), CEO de uma grande corporação que ele julga ser uma alienígena.

O núcleo da narrativa se estrutura no contraste entre a paranoia crescente de Tedd e a racionalidade controlada de Michelle. Emma Stone entrega uma performance contida, funcionando mais como contraponto do que como força motriz da trama, o que permite a Plemons dominar o filme. Ele constrói um personagem fascinantemente instável, alternando entre momentos de obsessão genuína e lapsos cômicos que revelam o quanto sua loucura é doentia.
A dúvida constante — será que ela realmente é uma alienígena? — mantém o espectador atento, mesmo quando o roteiro segue um caminho distorcido da realidade.
Aidan Delbis surge como uma das grandes surpresas do elenco. Seu Don é uma figura cuja a inocência e o amor pelo primo equilibra a energia caótica de Plemons. Juntos, eles formam uma dupla que encarna a própria lógica: quanto mais absurdas, mais convincentes.

O humor de Bugonia nasce na escalada do delírio. As teorias de Tedd se tornam cada vez mais extremas, culminando em momentos violentos e grotescos que expõem a fragilidade da razão humana. Lanthimos, conhecido por seu olhar clínico sobre o comportamento e o desejo, mantém aqui seu estilo observacional, mas suaviza o cinismo. Ao adaptar Save the Green Planet! (2003), de Jang Joon-hwan, o diretor troca o desconforto filosófico por uma experiência mais acessível, ainda que exagerada, e moldada ao formato hollywoodiano.

Bugonia pode não ser a obra mais desafiadora da filmografia de Yorgos Lanthimos, mas que diverte ao transformar o delírio em reflexo. Com um elenco carismático, o diretor entrega uma comédia que expõe, com ironia precisa, nossa inclinação imediata de atribuir a terceiros a responsabilidade pelos nossos próprios atos. O resultado é uma experiência mais leve, que oferece uma nova porta de entrada para o universo singular de Lanthimos.
Nota: 4/5
