As expectativas para Wicked – Parte II: For Good eram inevitáveis. O sucesso de bilheteria, de crítica e, principalmente, a devoção dos antigos fãs fizeram Glinda e Elphaba conquistarem uma nova geração de admiradores com o filme de 2024. Afinal, poucas coisas são tão irresistíveis quanto um “enemies to lovers”, uma amizade intensa entre duas almas tão opostas quanto complementares. E, claro, ninguém escapou de passar semanas cantarolando as canções imortalizadas por Cynthia Erivo e Ariana Grande, como um feitiço que nos envolveu por completo.

É nesse clima de devoção, e também de cobrança, que o novo filme chega aos cinemas. E é justamente sob o peso dessa antecipação que ele começa a vacilar. A sensação é de que o amor pela obra original se transforma numa espécie de armadura rígida demais para o cinema. O diretor Jon M. Chu enche cada cena de brilho, reverência e saturação visual, tentando compensar pela estética aquilo que a narrativa já não sustenta com o mesmo vigor. O que antes era afiado, político e surpreendentemente íntimo ganha contornos dispersos, quase diluídos em nome da fidelidade absoluta.

Há um desconforto raro para uma produção desse porte: a sensação de que o tempo não passa… ou passa rápido demais. Não sabemos se a história se desenrola em dias, meses ou anos — e o filme tampouco parece saber.
É como se tudo acontecesse “porque precisa acontecer”, e não porque faz sentido. Emoções saltam de um estado a outro sem coerência, como se faltassem as engrenagens internas que dão verdade às ações. Os atalhos dramáticos funcionam apenas sob as luzes do palco, mas não sobrevivem ao olhar atento da câmera.

A primeira parte construiu uma fundação poderosa baseada em afeto, conflito e transformação, mas a continuação desperdiça esse potencial. Não sentimos o peso das escolhas nem a importância das revelações, porque o filme também parece não sentir.
E nada expõe isso mais do que o afastamento físico das protagonistas.
Cynthia Erivo e Ariana Grande brilham individualmente, são estrelas que sustentam até o enredo mais frágil, mas Wicked só encontra força real quando esses dois universos finalmente se chocam. Quando elas se separam, o filme perde energia, urgência e, principalmente, emoção. É quase cruel perceber que a dinâmica que tornou a Parte I tão magnética simplesmente se dissolve aqui.

Essa fragilidade se espalha pelo restante da obra. Personagens que antes prometiam histórias marcantes surgem como sombras da própria importância: um arco romântico que mal encontra espaço para respirar, uma tragédia que merecia mais tempo, subtramas lembradas tarde demais e temas essenciais praticamente evaporados. Até figuras com potencial icônico são reduzidas a funções, como se a narrativa tivesse pressa demais para deixá-los existir plenamente.
O mesmo vale para a ponte com o clássico de 1939, que deveria ser impactante e amarrar tudo com significado. Em vez disso, faltou coragem, coração e inteligência para adaptar essa sequência.

E, em um musical, quando até as canções deixam de ecoar, o estranhamento aumenta. Não há números ruins, mas são músicas que acontecem e logo se dissipam, como se temessem ocupar espaço demais. Dificilmente você vai querer incluir alguma na sua playlist diária.
No fundo, For Good sofre por tentar traduzir literalmente a peça teatral para o cinema, duas linguagens que conversam, mas não se espelham. A poesia que funciona no palco não pode ser simplesmente transplantada para o audiovisual.
O resultado é um final que hesita quando deveria arrebatar. Um desfecho inconsistente, que dói ainda mais porque vimos essa história funcionar lindamente no cinema um ano atrás.

Talvez os fãs mais devotos encontrem luz onde o filme não a construiu; talvez preencham com memória afetiva as lacunas deixadas nesse caminho de tijolos amarelos. Mas, para a maioria, resta a sensação incômoda — quase amarga — de que a magia estava ali, prestes a explodir em um último feitiço… e, ainda assim, escapa como água entre os dedos antes que possamos segurá-la.
Nota: 2,5/5
