Exibido no FRAPA (Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre), o primeiro episódio de Ângela Diniz: Assassinada e Condenada cumpre a promessa de ser uma série instigante. A produção, dirigida por Andrucha Waddington, contará com seis episódios, sendo que os dois primeiros estreiam em 13 de novembro na HBO Max.

Baseada no aclamado podcast Praia dos Ossos, da Rádio Novelo, a série se passa nos últimos anos de vida da socialite Ângela Diniz, assassinada em 1976 pelo então namorado Doca Street. Um feminicídio marcado por um julgamento tão brutal quanto a própria morte da vítima.
Marjorie Estiano encarna Ângela com intensidade, fazendo o público se encantar e apaixonar por ela. Todo o glamour e a sedução de uma mulher que ousou ser livre estão em tela, assim como o perigo de existir fora das “regras”.
A série começa de forma abrupta, já com o divórcio entre Ângela Diniz e o engenheiro Milton Villas Boas (Thelmo Fernandes). Esse início, à primeira vista desconcertante e apressada, nos lança diretamente no caos de uma mulher em transição. Ao escolher por esse ponto de partida, a produção captura a própria sensação de desordem que cercava Ângela. Ela não é retratada como heroína, mas como uma mulher cercada de privilégios — dinheiro, fama e beleza —, mas também de contradições moldadas por uma estrutura machista que, pouco a pouco, a empurra para o abismo.

A ambientação dos anos 1970 em Belo Horizonte é elegante, mas monótona. O primeiro episódio funciona como uma metáfora: uma prisão doméstica, uma vida contida entre aparências, refletindo a mulher que tenta se libertar do papel de esposa para existir como indivíduo. No entanto, esse ritmo mais contido pode tornar a experiência um pouco entediante em alguns momentos.
Diferente do Praia dos Ossos, que é documental, a série assume o formato de ficção inspirada em fatos reais. Algumas mudanças reforçam essa liberdade narrativa: na vida real, Ângela teve três filhos; na série, apenas uma. Segundo os roteiristas Elena Soarez, Pedro Perazzo e Thais Tavares, que estiveram no FRAPA falando sa série, a decisão buscou preservar a privacidade dos filhos ainda vivos e evitar repetições dramáticas. O mesmo vale para o recorte do episódio piloto, que opta por começar com o divórcio, e não pela infância ou adolescência, concentrando-se no embate central entre liberdade e controle social.

Marjorie Estiano brilha em cena. Sua Ângela é altiva e sedutora, uma mulher que carrega nos olhos o peso de tentar existir em um mundo que insiste em silenciá-la. Sua interpretação é expressiva, devolvendo humanidade a uma figura tantas vezes reduzida a manchetes. Difícil não lembrar do filme Ângela (2023), que decepcionou por sua superficialidade. Desta vez, no entanto, há respeito e propósito.
Vale acompanhar não só pela atuação magnética de Marjorie Estiano, mas também pelo que está por vir. Pelas prévias exibidas no FRAPA, Emílio Dantas promete intensidade como o assassino Doca Street, enquanto Antônio Fagundes surge como uma figura odiosa e brilhante. Nesse primeiro episódio, Yara de Novaes, mesmo com poucas cenas, interpreta maravilhosamente mãe de Ângela.

Ângela Diniz: Assassinada e Condenada tem tudo para ser uma série interessante de acompanhar, seja pela força da história real, seja pela entrega emocional de Marjorie Estiano.
