Sabe quando falta alguma coisa, mesmo que talvez você não consiga identificar o que é? Foi assim que saí da sessão do novo filme do Predador.
A primeira coisa que precisamos fazer é abandonar nossos conceitos sobre O Predador. Tentar encontrar aqui o espírito dos primeiros filmes pode ser um exercício em vão, e o resultado será apenas a decepção. E isso não é ruim, mas é algo que o espectador precisa pensar antes de entrar na sala de cinema. “O mundo não é mais o mesmo, Charles”.
Predador: Terras Selvagens se passa em um planeta remoto, onde um jovem predador, rejeitado por seu clã, precisa se provar. Nesse ambiente hostil, Yautja Dek terá de se aliar à androide Thia para sobreviver e alcançar seu objetivo: caçar uma criatura lendária.

Terras Selvagens é a sequência de A Caçada (2022), filmes que devem compor uma trilogia que pretende transformar O Predador em uma espécie de anti-herói — e aqui, esse é o foco principal do novo longa.
Dek é um jovem desacreditado por seu pai, que o considera fraco, mas que a todo momento tenta se provar para ele. É um personagem que não mede esforços para mostrar ser o mais forte guerreiro e caçador, mas sua jornada o fará enxergar o mundo de outra forma. Esse enredo pode assustar os fãs mais clássicos da franquia, já que a proposta é “amolecer” o Predador. A ideia de família e de clã é o tema central do filme e, curiosamente, em uma história sem humanos, acaba humanizando o próprio Predador.
É o clássico toque de mágica da Disney sobre o acervo da Fox, com o tom de terror sendo abandonado de vez em favor da aventura — ou, neste caso, da transformação de vilões em heróis.

A forma como o filme conduz essa mudança é bem feita, especialmente porque não busca grandes reflexões. O filme coloca os protagonistas em situações de perigo nas quais apenas juntos podem sobreviver. Assim, o laço é criado. Nada de novo, nada complexo, mas funciona porque o resto é bom.
A parte da exploração do planeta é o ponto alto. Há um ar de jogo de videogame, em que o personagem começa com poucos recursos e, ao longo da jornada, vai adquirindo novas armas e habilidades que o tornam mais forte. Essa dinâmica é interessante, mesmo que se sinta falta dos clássicos gadgets do Predador. Quando o filme chega ao arco final, tudo se torna ainda mais envolvente.
Toda a parte de exploração do planeta e a luta pela sobrevivência são divertidas, ainda que o tom cômico seja exagerado demais em alguns momentos, o que causa certa estranheza — amenizada pelo carisma de Elle Fanning e sua Thia, facilmente a melhor personagem do longa.

O trabalho de som do filme é impressionante, o que faz valer a ida ao cinema. Somando isso ao visual grandioso de boa parte da produção, temos uma bela experiência. Mesmo que existam pelo menos duas sequências de luta envolvendo o Predador nas quais a câmera se aproxima demais, em um ambiente escuro, deixando tudo confuso.

Por estar inserido em uma franquia, o filme traz várias referências ao universo de Predador e de Alien. A principal delas é a presença da Weyland-Yutani no planeta em que Dek está — e, claro, sua ligação com a androide Thia. No entanto, por mais que essas conexões agradem aos fãs, aqui elas acabam soando um tanto forçadas. Não pela presença da corporação em si, mas pelos detalhes que vêm junto. Por exemplo, a antagonista do longa é uma grande guerreira, mas no final empunha uma mecha para lutar, no estilo Ripley em Alien. Mesma empresa, mesmo tipo de máquina. Eu entendi, gente, não precisava jogar tanto na minha cara assim.

O filme também se apressa no final. Parece haver uma obrigação de encerrar a história dentro de um tempo determinado. Enquanto boa parte do longa se permite desenvolver com calma e nos deixa aproveitar a exploração, no momento do confronto, se você piscar, acabou. E ainda há a sensação de que tentaram incluir uns três finais atropelados, além de um gancho para uma sequência. Nesse ponto, a emoção já se perdeu completamente.
Predador: Terras Selvagens é um filme que pode agradar ao novo público da franquia, mas para os mais saudosistas pode ser um problema.
Nota: 3/5
