Jordan Peele é o grande chamariz para GOAT, e por mais que o filme tenha várias semelhanças com sua obra, não demora muito para perceber que sua presença apenas na produção não garante a qualidade nem o cuidado com a mensagem que sempre está por trás das produções.

GOAT acompanha a jornada de Cameron Cade (Tyriq Withers), um promissor jogador de futebol americano que dedicou toda a sua vida ao esporte. Na véspera de um importante evento de avaliação e recrutamento de atletas para a liga profissional, Cade sofre um acidente causado por um fã descontrolado, colocando sua carreira e os anos de dedicação em risco.
Quando tudo parece perdido, porém, seu ídolo, o lendário e veterano quarterback Isaiah White (Marlon Wayans), assume a responsabilidade de orientar o talentoso atleta em sua ascensão para o topo, oferecendo-se para treiná-lo em seu ginásio isolado, um complexo que divide com sua esposa, uma famosa influencer chamada Elsie White (Julia Fox).

À medida que o treinamento avança e se intensifica, o comportamento de Isaiah se revela cada vez mais tóxico e sombrio, levando Cade a um extremo que pode lhe custar a vida. Entre o desejo de sucesso e os enigmas que cercam o local, GOAT explora os perigos da fama, da idolatria e da busca pela excelência a qualquer custo.
O filme tem um bom primeiro ato, onde nos apresenta Cameron Cade e sua relação com o esporte e a família, principalmente a origem da pressão pelo sucesso no esporte que vem dessa família, e também deixa claro o tamanho de Isaiah White dentro do futebol, colocando rapidamente tudo em seu lugar para desenvolver a relação entre os dois, que é o principal do filme.

Inclusive, logo é possível perceber que não é sobre o futebol, e sim sobre a pressão em ser o melhor, em ser o cara; o filme não se prende muito a conceitos e explicações sobre o esporte, e isso é muito bom, pois o esporte é o pano de fundo para lidar com o tema central.
Para quem acompanha esportes em geral, as histórias de atletas sobrecarregados e levados ao limite têm sido cada vez mais objeto de debates, e vozes importantíssimas do esporte, como a atleta de ginástica norte-americana Simone Biles, são algumas das que mais têm tocado no assunto. Virando até série da Netflix, o que o torna ainda mais atual para fora da bolha do esporte.
E a ideia de usar elementos de terror para mostrar essa pressão é muito boa na primeira metade do filme. Existe uma estranheza em tudo que vai acontecendo durante o treinamento de Cade, que consegue desenvolver bem a crítica, como algo que aterroriza os atletas, ao mesmo tempo que se torna um objeto de batalha a ser superado.

Mas, em algum momento, parece que o ponto da crítica é ultrapassado, e o filme começa a pisar no terreno da adoração. Quase como se dissesse que se você superar o medo e a dor, tudo vai fazer sentido, mesmo que você perca sua vida no caminho. E aí o filme se perde.
GOAT é dirigido por Justin Tipping e escrito por ele junto com Skip Bronkie e Zack Akers, e é no roteiro que existem os maiores problemas do filme. Ele permite que se crie uma dualidade que, em certo momento, entra em choque: uma que critica a pressão para ser o melhor, e outra que exalta, quase como uma vitória, aquele que ultrapassa essa barreira de dores e sacrifícios.

E aí são dois discursos que não casam. Você não pode dizer que a pressão no esporte é o terror, e, no final, dizer que com isso você se torna mais forte, se torna o grande vencedor. Quando GOAT termina, esse era o único pensamento que me vinha à cabeça.
A direção de Tipping parece querer ir a algum lugar, mas sempre para na porta, como se só espiassse para dentro, mas não tivesse coragem de entrar. Existe toda uma insinuação com elementos de seita, personagens estranhos, que faria muito bem se o filme se entregasse mais a isso.
O longa até se joga nisso em sua conclusão, em uma alegoria aos donos de times que assistem a tudo de seus camarotes, quase como apreciadores dos sacrifícios dos atletas, mas toda a ideia ao redor já está tão distorcida que aqui não funciona para mim.

Muitas vezes, no meio do filme, vemos um Cade perdido entre lugares e pessoas estranhas dentro do complexo de treinamento, salas escuras, presenças mascaradas e, principalmente, a personagem de Julia Fox, Elsie White, que poderia ser melhor usada no filme.
Além disso, algumas soluções visuais são usadas até se desgastarem, como o efeito de raio X durante algumas interações violentas, que funciona na primeira vez, mas depois é usado além do limite até não funcionar mais.
A dupla Tyriq Withers e Marlon Wayans funciona bem. Tyriq transparece essa vontade de ir além, mas sem querer perder sua essência, o que funciona para a ideia inicial em torno de seu personagem, e Marlon Wayans, por mais que eu sempre o associe à comédia, consegue trazer esse ar de loucura e obsessão que forma um ótimo casamento entre Cade e Isaiah. A interação entre os dois atores é a única coisa que eu gosto no final do filme.

GOAT é um filme que traz um tema muito atual ligado aos esportes, e isso pode agradar o público, mas que se perde tanto entre suas ideias e sua execução que, mesmo sendo um filme de um pouco mais de uma hora e meia, deixa a sensação de ser muito mais longo.
O longa já está em exibição nos cinemas.
Confira trailer do filme:
