Animais Perigosos vem com a promessa de muitos tubarões, mas no fim, o verdadeiro perigo sempre esteve nas pessoas.

O filme acompanha a surfista experiente e de espírito livre chamada Zephyr (Hassie Harrison), que é sequestrada por um assassino em série conhecido como Tucker (Jai Courtney). O modus operandi do criminoso é peculiar e perturbador: obcecado por tubarões, Tucker rapta suas vítimas e as transforma em comida para esses animais assustadores e famintos, conduzindo toda essa tragédia como um espetáculo. Zephyr é mantida em cativeiro com outra jovem e precisa testemunhar os horrores do serial killer enquanto procura formas de escapar desse pesadelo. Esperta e sagaz, ela luta pela própria vida e contra o tempo, antes de se tornar mais uma refém do ritual macabro de Tucker.

Mesmo com muitas referências a filmes de tubarões assassinos logo no começo, a história se distancia dos animais aquáticos para focar em um animal muito mais perigoso: o humano. Os tubarões aqui, ao invés de predadores, se tornam a arma de Tucker, que os usa para liberar seu próprio instinto assassino e perturbado. E o filme tem tudo: a vítima que parece diferente das demais, aquela que realmente pode enfrentar seu executor, o ritual de morte do serial killer, algumas vítimas pelo caminho e muito sangue. Afinal, sangue ajuda a chamar tubarões, não é?
E é aqui o ponto alto do filme. Os dois primeiros atos focam competentes nisso, a ponto de que a ausência dos tubarões nem é sentida. O foco é em Tucker e Zephyr, e a luta pela sobrevivência é tensa e bem construída, desde o momento em que Tucker pega sua vítima até toda a construção do medo que ele coloca nela pela aproximação da morte.

Hassie Harrison é uma boa final girl: uma garota independente, cheia de problemas do passado que o filme não se preocupa em explorar. Entendemos que ela é uma mulher que se afastou de tudo e busca a paz na solidão do mar, até ele se tornar o lugar que pode ser seu fim e ela perceber que existe vida longe dali. Mas é Jai Courtney o grande destaque do filme. Ele consegue unir o medo, a aventura, a violência e os toques de comédia e sarcasmo de forma perfeita. Ele é realmente um serial killer que você percebe que pode matar sem escrúpulos a qualquer momento; ele se entrega a suas necessidades violentas sem pudor e se diverte enquanto faz isso. É o tipo de assassino carismático que pode atrair o público e, quem sabe, render as tão sonhadas franquias. No fim, é mais dele que eu gostaria de ver, muito além da mocinha e de seu companheiro de luta pela sobrevivência.

E é exatamente nesse companheiro que o filme começa a deslizar. Josh Heuston interpreta Moses, um local na praia que tem um encontro com a protagonista e acaba se encantando com ela. Quando Zephyr é pega por Tucker, ele vai atrás dela para tentar salvá-la. Além de o personagem ser ruim, com motivações quase inexistentes, o filme ainda tenta criar uma ligação romântica entre duas pessoas que se conhecem há dez horas. E o problema nem é o tempo, mas sim a falta de conexão afetiva que o filme, além de não construir, tenta resumir a uma cena de sexo com algumas frases prontas. E a forma como o filme fecha essa relação no terceiro ato é vergonhosa.
Falando no final, é aqui que o filme vai para um lugar onde o sentido não existe. Em um ano em que alguns filmes de terror entregaram conclusões fora da caixa, Animais Perigosos apresenta algumas cenas que não fazem sentido nenhum na hora que a protagonista encara sua fuga: uma cena em que ela escapa das algemas, sobe no barco de forma quase impossível, ou ainda faz um contato quase espiritual com um tubarão são de se contorcer na cadeira de tão sem sentido. A história, que trabalhou um serial killer tão real e possível, se desconecta totalmente. Mas nada acaba se comparando à grande homenagem a Free Willy que o filme faz e que enterra de vez todo o absurdo do ato final. Sério, se preparem para essa cena.

Com uma história sólida e um vilão instigante, o filme tem um único problema, mas fatal: seu desfecho. Um final que destrói tudo o que foi construído e sabota completamente a experiência.
Animais Perigosos está em cartaz nos cinemas.
