Crítica | “A Longa Marcha: Caminhe ou Morra” — o filme de terror que adapta a obra de Stephen King vai destruir seu coração

Francis Lawrence retorna às telas para nos contar mais uma história distópica de um governo totalitário, onde jovens são sorteados para morrer em uma competição brutal — e apenas um pode sobreviver. Não, não é mais um filme da franquia Jogos Vorazes. É, na verdade, a mais recente adaptação de uma obra de Stephen King: A Longa Marcha: Caminhe ou Morra, que chega aos cinemas e promete mostrar o terror de um regime que suprime até a esperança.

Aqui, caminhar não é apenas caminhar. É sobreviver. Não se trata de uma simples corrida de resistência, mas de enfrentar o medo, a exaustão e, acima de tudo, de proteger a sua própria humanidade.

Cena do filme ” A Longa Marcha”. Crédito: Divulgação/ Paris Filmes

Escrito por Stephen King ainda adolescente, nos anos 60, em plena Guerra do Vietnã, sob o pseudônimo Richard Bachman, o romance já carregava uma doçura inquietante em meio à perturbadora realidade da guerra. Publicado em 1979, a história permanece perturbadoramente atual.

No longa, acompanhamos 49 jovens, um de cada estado desse pais distópico, voluntários selecionados por sorteio. A Longa Marcha é o espetáculo da disciplina e do terror, um instrumento de controle para uma sociedade oprimida, pobre e vulnerável. Liderados por um Major interpretado por Mark Hamill, os competidores não têm linha de chegada. Devem enfrentar chuva, calor, exaustão e, acima de tudo, a impossibilidade de parar. Quem cede, morre. Quem resiste até o fim, carrega o fardo de ter sobrevivido e perdido todos — e, em parte, perdido a si mesmo.

Cena do filme ” A Longa Marcha”. Crédito: Divulgação/ Paris Filmes

O filme utiliza essa caminhada interminável como metáfora para os horrores da guerra: tanto os conflitos na estrada quanto os traumas daqueles que os vivenciam. A loucura, a doença, a fraqueza… tudo se torna um tratado sobre como a violência pode arrancar de nós aquilo que somos.

Lawrence mergulha no horror visual e sangrento, mas a essência do filme não está nas mortes em si, e sim nos instantes de humanidade que brotam entre a dor. É no apoio silencioso, nas pequenas piadas entre passos arrastados, nas confissões de cada jovem nessa jornada. É aí que a marcha encontra sua alma. Cooper Hoffman brilha como Ray Garraty, mas é David Jonsson, como Peter McVries, quem faz o espectador torcer por todos eles. Não existe um inimigo entre p grupo. Todos… TODOS são vítimas.

Cena do filme ” A Longa Marcha”. Crédito: Divulgação/ Paris Filmes

O verdadeiro vilão é o totalitarismo e os horrores que uma guerra produz. A fotografia de Jo Willems reforça esse peso com longas tomadas em estradas rurais vazias, enquanto uma população espectral observa de longe, oprimidas e desesperançosas. O filme não precisa explicar em detalhes esse mundo; flashes e sutilezas falam por si.

A única nota dissonante está em Mark Hamill. O Major, sem nome, é a personificação da máquina de controle, mas sua presença acaba destoando do tom intimista e cru do filme. São os jovens que carregam o peso emocional da narrativa, mesmo aqueles que aparecem por poucos segundos.

Cena do filme ” A Longa Marcha”. Crédito: Divulgação/ Paris Filmes

A Longa Marcha: Caminhe ou Morra não é um thriller de ação explosivo, mas sim um filme que encontra sua cadência no ritmo dos passos. Sustenta-se nos diálogos, nas conexões entre os jovens e na cumplicidade criada também com os espectadores. Não espere ação, espere o desconforto da jornada.

Perturbador e poético em sua brutalidade, o longa transforma cada passo dos jovens em símbolo: a marcha não se limita ao corpo, mas atravessa a essência do ser, lembrando que, diante da morte, apenas as pequenas alianças nos mantêm verdadeiramente humanos.

Cena do filme ” A Longa Marcha”. Crédito: Divulgação/ Paris Filmes

No fundo, a obra nos confronta com a pergunta mais existencial: pelo que vale a pena continuar, mesmo quando tudo ameaça nos destruir?

“A Longa Marcha: Caminhe ou Morra” estreia nos cinemas a partir do dia 18 de setembro.

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