Crítica | “Dexter: Ressurreição” entregou o melhor da franquia em anos. Mas será que foi o suficiente?

A Paramount e a Showtime têm investido em várias tentativas de trazer Dexter Morgan de volta desde o trágico final da série original e, entre tropeços e acertos, nunca esteve tão próximo do sucesso quanto agora.

Michael C. Hall em “Dexter: Ressurreição”. Crédito: Divulgação / Showtime

Dexter sendo Dexter. Esse é o grande acerto da série Ressurreição. Diferente de New Blood (2021), que tentou trazer camadas diferentes para o personagem, falando muito de culpa e da passagem de legado, a nova série focou em botar o personagem para fazer o que mais sabe: assassinar criminosos. Dexter (Michael C. Hall) tem novamente um grupo de assassinos que escapam da justiça para dar vazão à sua compulsão. E, dentro de todo drama que a série original desenvolveu, essa caçada sempre esteve presente, e aqui funciona muito bem de novo.

Ainda mais porque, em Ressurreição, a série traz personagens interessantes para cruzar o caminho de Dexter. Fazer essa reunião de serial killers foi como trazer vários chefões para uma só fase. O que antes tínhamos um por temporada, um grande nêmesis ou um grande caso, dessa vez a série conseguiu ter vários. Além de ter Leon Prater como o grande objetivo, com o magnífico Peter Dinklage dando vida ao personagem, a série ainda traz serial killers famosos em um elenco com Neil Patrick Harris, Krysten Ritter, David Dastmalchian e Eric Stonestreet, além de Uma Thurman como braço direito de Prater. Um prato mais que cheio para a série dar certo.

Peter Dinklage e Michael C. Hall em “Dexter: Ressurreição”. Crédito: Divulgação / Showtime

O estúdio também entendeu que a nostalgia e a ligação com o passado precisavam estar presentes e trouxe esse ingrediente com várias aparições especiais, como James Remar como Harrison Morgan, mas principalmente a presença insistente de Ángel Batista, com o sempre carismático David Zayas.

Mas a presença de Ángel foi mais que uma participação. Ela serve como lembrança constante de que, mesmo que Dexter mate criminosos, ele ainda é um serial killer — e muita gente inocente morreu por causa dele. A forma como a série trabalha Ángel como uma grande ameaça ao segredo de Dexter é ótima. Mais um ponto que aproxima a série das boas primeiras temporadas da franquia, indo além ao mostrar as consequências para todos que se aproximam de Dexter.

Porém, nem tudo foi tão bom. Os criadores da série ainda precisam aprender a trabalhar com Harrison. Ele foi o grande problema de New Blood e, em Ressurreição, continua ocupando esse posto. Por mais que Jack Alcott tenha até melhorado, ele ainda é a parte mais desinteressante da série, e os roteiristas parecem não conseguir dar uma história própria para ele.

O começo até indicava que ele seguiria o caminho do pai, com um assassinato que parecia liberar a mesma urgência em matar que Dexter — de novo indo pelo péssimo caminho da passagem de bastão. Porém, ao longo da temporada, ele é levado para outro lado, com um senso de justiça mais próximo da irmã de Dexter, Debra Morgan. Esse papel poderia funcionar muito bem para Harrison no futuro, apesar de que lidar com isso sabendo o segredo do pai pode ser complicado. Ainda assim, talvez seja uma forma de finalmente dar um rumo próprio ao personagem. Só que, dentro da temporada, fica estranho.

Michael C. Hall em “Dexter: Ressurreição”. Crédito: Divulgação / Showtime

A série também deixou muitas coisas mal desenvolvidas, como a relação de Dexter com a família que ele se aproxima e aluga o apartamento. Alguns momentos tensos foram criados, mas acabam não tendo importância. Talvez, se a série continuar, essa relevância apareça. A verdade é que muitas pontas ficam soltas. Ao mesmo tempo em que existe cara de final, fica a decisão nas mãos da Paramount: continuar ou não com a série.

Os fãs antigos estão convencidos. Mas será que foi suficiente para atrair um novo público e garantir a continuação? Essa resposta somente o futuro dirá, e as pistas são opostas. A resposta mais lógica seria o não. Estamos diante do terceiro spin-off de Dexter, e a última tentativa com Pecado Original (2024) parecia ter dado certo com sucesso de público e crítica, mas foi cancelada recentemente pela Paramount, quase sem explicação. Nesse cenário, Ressurreição pode ter sido o último capítulo da franquia.

Por outro lado, em Ressurreição tivemos a maior cara de continuação até hoje. Isso porque a nova série conseguiu algo que New Blood (a primeira tentativa de seguir com Michael C. Hall) não conseguiu: ter sucesso e ser realmente boa, se aproximando da qualidade dos primeiros anos da série original. E isso seria um excelente motivo para que o estúdio renove. Talvez até explique o cancelamento de Pecado Original, como um sinal de que é essa a história que a Paramount pretende seguir.

Claro que há um grande risco: repetir o que aconteceu com a série original, que se esticou demais e entregou um dos piores finais da história da TV. Se pensarmos por esse lado, talvez o que vimos em Ressurreição já seja um belo final. Eu confesso que, mesmo querendo mais, fico feliz que a história termine dessa forma.

Michael C. Hall em “Dexter: Ressurreição”. Crédito: Divulgação / Showtime

A verdade é que aguardaremos a resposta oficial da Paramount, mesmo com fontes já indicando que Michael C. Hall teria aprovado uma continuação de até três temporadas.

Você pode conferir todos os episódios de Dexter: Resurrection na Paramount+.

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