Homenageada com o Troféu Oscarito no 53º Festival de Cinema de Gramado em 2025, Marcélia Cartaxo estreia em novo filme no dia 04 de setembro nos cinemas.
No longa A Praia do Fim do Mundo, dirigido por Petrus Cariry, Marcélia vive Helena, uma senhora que mora com sua filha Alice (Fátima Macedo) à beira-mar da Praia de Ciarema. A casa delas vem sofrendo com o avanço do mar sobre a praia, que está devastando as construções próximas. Isso faz com que Alice queira ir embora, mas Helena insiste em permanecer diante do mar. No fim, as duas precisarão enfrentar seus destinos.

Muito além da sinopse, o filme de Petrus Cariry fala por si só em suas cenas de abertura. A belíssima fotografia em preto e branco é a porta de entrada para essa disputa geográfica e geracional entre o mar e a terra, e entre a tradição e o futuro. Se, em busca de oportunidades, os humanos fizeram a terra ocupar o lugar do mar, o tempo fez a natureza revidar — agora, o mar expulsa essas famílias retomando o seu lugar.
Dentro dessa família, ou do que restou dela, temos a mãe que se agarra à casa como os pilares reforçados feitos por seu pai, onde ela se sente parte daquele lugar e acredita que, se o mar quiser seu legado, deverá levá-la junto. Do outro lado, temos sua filha, que se rende à força da natureza e entende que aquele lugar não lhes pertence mais, sendo necessário buscar um lugar distante dali.
Todos os aspectos do filme nos carregam por essa dicotomia, enquanto, a cada momento, ele nos faz navegar entre torcer para que elas saiam dali e entender a dificuldade de abandonar tudo o que conhecem, seja pela força do mar ou por um mundo que talvez não tenha espaço para elas. Esse sentimento se reforça porque nunca vemos um plano. O pensamento “para onde essas pessoas vão?” é constante, inclusive quando vemos uma vizinha da família abandonando sua casa em ruínas.

Pouca coisa muda durante o filme, assim como Helena, e existe uma dificuldade em avançar, assim como Alice. Seja coincidência ou proposital, fica a sensação de repetição. As discussões entre mãe e filha se repetem muitas vezes, os argumentos se acumulam e parece que estamos sempre no mesmo lugar. Claro que, se espelharmos em nossa própria vida, percebemos semelhanças nesse comportamento. Mas, dentro do filme, isso prejudica um pouco o ritmo, deixando a impressão de que outros elementos poderiam ter ganhado mais espaço.
A sinopse diz que Alice é ambientalista, mas isso não se mostra essencial dentro da trama. Assim como a relação de comunidade, que surge pontualmente em conversas sobre a exploração da região, mas não ganha relevância. O que sobra, então, é a questão familiar, que sim, é o ponto principal do filme, mas que acaba sendo um tanto vazio de contexto para reforçar as posições de cada uma delas.

Já na parte final, o filme ganha alguns traços de fantástico que se tornam bem interessantes. A figura de um homem misterioso adiciona tensão, mas tudo culmina em um final abstrato, com mais perguntas do que respostas. Nesse caso, é uma boa saída, pois respostas simples poderiam enfraquecer o tom lúdico e quase filosófico que a conclusão traz.
São Marcélia Cartaxo e Fátima Macedo que sustentam o longa. As duas entregam atuações que transbordam da tela, trazendo tanta beleza quanto o visual concebido pelo diretor. Marcélia carrega uma experiência que atravessa a história de sua personagem, dando peso a cada palavra. Já Fátima Macedo, com frescor e novidade, traz força às convicções de Alice.
A Praia do Fim do Mundo é um filme de imagens belíssimas, que, mesmo perdendo a força no meio da jornada, ainda consegue deixar um encanto ao final.
O longa chega aos cinemas no dia 4 de setembro, e é uma produção nacional de destaque que ninguém pode perder.
