Crítica | Nó: o drama de uma mulher que luta em todas as frentes

Exibido na mostra competitiva de longas nacionais neste sábado (16), durante o Festival de Cinema de Gramado, contou com a presença da diretora Laís Melo — em seu primeiro longa-metragem — e do elenco principal, que acompanharam a estreia da produção diante do público do festival.

Elenco e equipe de “Nó” no tapete vermelho
do 53° Festival de Cinema de Gramado.

Em , Glória passa por um divórcio conturbado, mas finalmente consegue se separar, mudando-se com suas três filhas para o centro de Curitiba. Desejando um recomeço, a mulher tenta construir um lar na nova casa e ficar em paz consigo mesma, apesar das dificuldades financeiras e das constantes ameaças do ex-marido, que pede a guarda integral das meninas. Como se não bastasse, Glória ainda precisa enfrentar uma disputa acirrada e delicada no trabalho, concorrendo ao cargo de supervisora da fábrica com sua melhor amiga e outros colegas.

Existe muita coisa em que poderia culminar em várias produções diferentes. O próprio longa é fruto de trabalhos anteriores da diretora e da roteirista em curtas realizados anteriormente. Mas é aqui que todas essas vivências se entrelaçam. Temos a mulher trabalhadora que precisa encarar a dura rotina enquanto disputa com as colegas — e amigas — por uma posição melhor na fábrica. Temos também a história dessa mãe de três filhas, recém-separada de um marido que parecia mais um quarto filho, em busca de uma nova casa e de uma nova vida. Ao mesmo tempo, enfrenta a batalha judicial pela guarda das meninas. E ainda há a mulher que deseja se encontrar, ter seus momentos, mesmo dentro de tantas dificuldades, sem deixar de cuidar e se doar aos outros.

E é exatamente nesses “nós” que reside a maior dificuldade do filme: conseguir unir todas essas histórias. Há muita vivência e realidade trazidas pelas roteiristas, mas ao tentar juntar tudo, o filme parece abarcar demais. É quase um paralelo com a própria trajetória de Glória, que batalha em mais frentes do que talvez pudesse. Mas, assim como ela, o filme faz o possível para encarar tudo o que tem em mãos. Glória acaba tendo mais sucesso. O longa tem grandes momentos, mas que não se conectam plenamente, falta contexto para todas as realidades da protagonista.

Cena do filme “Nó”
Crédito: Divulgação

Algumas coisas estão subentendidas, como a presença do ex-marido. Ele não aparece, e nem precisa, porque a dor, o abandono e o medo gerados por essa figura masculina já estão impregnados no filme e na realidade das mulheres.

Já a vida de Glória no trabalho, especialmente a tensão criada com sua amiga Magali ao disputarem uma promoção, carecia de mais tempo e desenvolvimento. Esse é um dos “nós” importantes da trama e, quando o ápice dessa relação acontece, fica a sensação de não compreendermos totalmente o motivo. Faltam elementos para sustentar essa amizade em conflito.

É nessa relação que surgem as duas forças do filme. Saravy constrói uma Glória repleta de verdade, com um olhar que parece dialogar diretamente com a câmera da diretora Laís Melo, não à toa, já que ambas assinam o roteiro juntas. Já Magali, interpretada magistralmente por Fernanda Silva, é uma personagem complexa, apresentada com a mistura certeira de sutileza e força. É a personagem mais rica do filme, mas também a que mais precisava de tempo.

Essa mistura de histórias que parecem existir muito mais fora do que dentro do filme também se reflete na direção e na fotografia. Falta unidade, como se houvesse vários filmes dentro de um só. A câmera, que emociona em uma cena da audiência de guarda, em outras, principalmente na fábrica, se mostra fria e quase documental, mesmo quando ali existem emoções igualmente importantes.

é um filme que tem muito a dizer, muito a mostrar, mas que não consegue. Mesmo com grandes momentos, a sensação é de que sempre deixa algo de lado.

Ainda sem data confirmada de estreia nos cinemas, segue sua trajetória em festivais, marcando a estreia de Laís Melo no longa-metragem e deixando a expectativa de quando o público brasileiro poderá conferir a obra em circuito comercial.

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