Crítica | “Os Enforcados”: Mais uma vez, o cinema brasileiro entrega um dos melhores filmes do ano

Que o cinema brasileiro está em alta não é novidade, mas sua popularidade dentro do próprio país vem crescendo cada vez mais — e isso é maravilhoso. Embora nossa produção cinematográfica sempre tenha sido rica e diversa, ainda existe uma barreira cultural a ser quebrada. Agora, chega aos cinemas “Os Enforcados”, mais uma prova de que o Brasil sabe fazer cinema de qualidade, entregando uma obra intensa, bem dirigida e interpretada.

Sinopse de Os Enforcados

Na trama, Leandra Leal e Irandhir Santos interpretam Regina e Valério, um casal que vive uma vida confortável no Rio de Janeiro até que Valério revela à esposa que estão endividados. A notícia chega em meio a uma reforma gigantesca na casa, instaurando o desespero. O dinheiro do casal vem do jogo do bicho, esquema comandado pelo tio de Valério, no qual ele participa apenas como contador, acreditando ter “as mãos limpas”. Mas, para sair das dívidas e do crime, o casal percebe que precisará de um último golpe.

Cena de “Os Enforcados”
Crédito: Divulgação / Paris Filmes

O filme é escrito e dirigido por Fernando Coimbra, responsável pelo premiado O Lobo Atrás da Porta (2014). Desde então, o cineasta trabalhou em séries internacionais como Narcos, Outcast e Perry Mason, além do longa Castelo de Areia, com Nicholas Hoult e Henry Cavill. Agora, Coimbra retorna ao cinema nacional com um longa inspirado em Macbeth, de William Shakespeare, mas narrado a partir da perspectiva de Lady Macbeth.

O resultado é uma escalada de violência envolta em humor sarcástico, criando no público a sensação constante de que tudo pode dar errado a qualquer momento. Cada passo do plano familiar torna a situação mais insustentável, prendendo a atenção do espectador.

Cena de “Os Enforcados”
Crédito: Divulgação / Paris Filmes

A sensação que o filme provoca lembra muito a série Treta (Beef, na Netflix), onde o caos escala de forma quase absurda e imprevisível. Também há traços de Impuros (disponível no Disney+), especialmente no retrato de Valério: um homem que nega ser criminoso, mas que, para atingir seus objetivos, acaba afundando cada vez mais no mundo do crime.

Relações familiares no centro da trama

Apesar de ter o crime e o jogo do bicho como pano de fundo, Os Enforcados é, acima de tudo, um filme sobre família e relações de poder dentro dela. Regina vive confortável na ignorância sobre as dívidas, enquanto Valério assume o papel de protetor, acreditando poupar a esposa da parte “suja” da vida. Conforme a trama avança, esses papéis se invertem: Regina se revela forte e estratégica, enquanto Valério se torna cada vez mais inseguro e reativo.

Além do núcleo central, o roteiro explora as relações paralelas: Valério e o tio, cuja ligação com a morte do pai é suspeita, mas jamais confrontada; e Regina com sua mãe, interpretada magistralmente por Irene Ravache, que “lê cartas” como charlatã, mas serve como apoio emocional disfarçado para a filha.

Cena de “Os Enforcados”
Crédito: Divulgação / Paris Filmes

Leandra Leal, em nova parceria com Fernando Coimbra após O Lobo Atrás da Porta, é o fio condutor da história. Sua personagem transita de uma mulher preocupada apenas com detalhes domésticos para alguém capaz de assumir decisões duras, revelando camadas de força e vulnerabilidade.

O final de Os Enforcados é surpreendente e catártico. Mesmo que o espectador desconfie do que está por vir, a forma como acontece é impactante e memorável. A última cena é um verdadeiro golpe emocional, encerrando a narrativa com perfeição.

Com ótima repercussão em festivais como Toronto, Rio, São Paulo e Havana, “Os Enforcados” estreia no Brasil em 14 de agosto. É um filme que vale cada minuto na sala de cinema. Garanta seu ingresso aqui.

Deixe um comentário