Em um ano em que o melhor filme até agora é um sobre vampiros (Sim, PRECADORES), Luc Besson apresenta sua versão de Drácula, adaptando o clássico de Bram Stoker com uma promessa ousada: transformar a narrativa numa grande história de amor. Mas Drácula: Uma História de Amor Eterno, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 7 de agosto, acaba esquecendo justamente o essencial: o vampirismo.

Crédito: Divulgação/ Paris Filmes
Na trama, após a morte de sua esposa Elisabeta (Zoë Bleu Sidel) no século XV, um príncipe desiludido renuncia a Deus e se transforma em vampiro. Já no século XIX, em Londres, ele atende pelo nome de Drácula (Caleb Landry Jones) e encontra uma mulher que lembra estranhamente sua amada falecida. Convencido de que ela é a reencarnação de Elisabeta, ele fará de tudo para reconquistá-la.
A ideia de focar no lado romântico do Drácula não é exatamente nova. O personagem já foi adaptado mais de 30 vezes para o cinema, e a obsessão do conde por um amor perdido é parte essencial de muitas dessas versões. Luc Besson tenta transformar isso no ponto central de sua leitura, mas essa escolha acaba revelando o maior problema do filme.
Seu roteiro não consegue construir esse amor de forma convincente. Ele depende muito do envolvimento emocional do público com base em uma única cena inicial intensa — ou da memória afetiva com versões anteriores da história. Para quem não embarca de imediato, o relacionamento entre os personagens soa forçado. Na verdade, a cena inicial entre Vlad e Elisabeta é mais incômoda do que romântica: há muito mais posse e obsessão do que amor verdadeiro.

Outro problema significativo é a falta de carisma do protagonista. Caleb Landry Jones não transmite o fascínio característico das figuras vampirescas. Drácula sempre foi sinônimo de sedução, mistério, perigo — de Bela Lugosi a Gary Oldman, até mesmo Edward Cullen. Mas Jones, em parte por culpa do roteiro, entrega um Drácula sem charme, introspectivo demais, quase apagado.
O Padre interpretado por Christoph Waltz também não ajuda muito. O ator entrega o mesmo tipo de atuação que já vimos tantas vezes — e que só Tarantino parece ter conseguido subverter em algum momento. Aqui, ele está apenas no piloto automático.

Crédito: Divulgação/ Paris Filmes
Entre os destaques, o elenco feminino consegue segurar o filme. Zoë Bleu transmite melhor que o roteiro o encanto que sua personagem sente por Drácula. Há uma ambiguidade no olhar, um desconforto nos sentimentos, que funcionam melhor do que o texto sugere. No entanto, é Matilda De Angelis quem realmente brilha. Sua personagem injeta energia no longa, especialmente em momentos em que tudo parece desacelerar demais. E mais importante: ela é a que mais traz o elemento vampírico para o filme.

E é justamente a ausência desse elemento que decreta o fracasso de Drácula. Há apenas uma cena onde o personagem realmente assume seu lado predador, mordendo pescoços com fúria. No restante, Besson aposta em um recurso curioso, um perfume usado por Drácula para hipnotizar pessoas, mas que apenas reforça o tom mais fantasioso e menos sombrio da narrativa. Mesmo o confronto final contra os caçadores tem mais cara de filme de guerra do que de horror gótico. Falta magia. Falta sangue. Falta mordida.

Crédito: Divulgação/ Paris Filmes
Ainda que a visão de Besson sobre seus personagens tenha algum valor, há uma sensibilidade, uma tentativa de humanizá-los, é pouco. Para quem conseguir “sentir o perfume” do Drácula, talvez a experiência seja mais positiva. Para o resto, fica só uma história de amor… sem alma.
