Se a Marvel Studios tinha um objetivo claro com Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, era o de apresentar a primeira família da editora de forma acessível, sem atropelos ou ambições grandiosas. E, nesse sentido, o filme cumpre exatamente o que promete: um ponto de partida. Simples, contido e quase introspectivo, Primeiros Passos evita os excessos narrativos e visuais que marcaram fases recentes do estúdio e, curiosamente, encontra força justamente naquilo que poderia parecer uma fraqueza: a sua simplicidade.

Desde o primeiro ato, é perceptível que estamos diante de um longa que não faz questão de soar como “mais um filme do MCU”. Não há múltiplas linhas do tempo, referências infinitas ou camadas de metalinguagem. O foco aqui é nos quatro protagonistas e em sua relação como equipe — e como família. A construção é lenta, deliberada, e prioriza diálogos e relações em vez de explosões e fan service exagerado. Em tempos de saturação de multiverso, isso soa quase como um respiro.
O tom lembra mais um filme de ficção científica dos anos 70 do que um blockbuster moderno. Há algo de retrô na maneira como a narrativa se desenrola, nos figurinos, nas cores mais frias e na trilha sonora que aposta na melancolia e na curiosidade científica em vez da excitação desenfreada. Para alguns, isso pode soar anticlimático. Para outros, como um novo caminho possível.

Outro ponto a se destacar é como Primeiros Passos praticamente ignora o restante do Universo Cinematográfico da Marvel. Não há menções diretas aos Vingadores, aos eventos de Kang ou ao blip do Thanos. Isso é um risco —afinal, parte da força do MCU sempre foi sua interconectividade — mas também um trunfo: o filme pode ser compreendido por qualquer espectador, mesmo que nunca tenha assistido a outra produção da Marvel.
No entanto, essa escolha também cobra um preço. A ausência de antagonistas realmente carismáticos ou de momentos de virada marcantes pode tornar o filme previsível. O roteiro, por mais seguro que seja, não ousa. E mesmo as atuações, competentes em sua maioria, parecem seguir essa mesma linha de segurança. Ninguém compromete, mas também ninguém arrebata.

Ainda assim, há algo reconfortante na proposta. Como o próprio título indica, Primeiros Passos é exatamente isso: uma introdução. E, diferentemente de tantas estreias apressadas no gênero, aqui o estúdio parece interessado em plantar raízes antes de colher aplausos. Não é espetacular. Mas é promissor.
Em resumo: Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é um filme menor, mas consciente disso. Funciona como uma apresentação digna, que prefere caminhar com firmeza a correr sem direção. Se essa simplicidade será mantida ou deixada de lado nos próximos capítulos, só o tempo dirá. Mas para quem esperava algo mais contido e humano, é um bom começo.
