Eu já sabia que ia chorar. A dúvida era só em que minuto exato o Banguela ia me desarmar com aqueles olhinhos de gato. A resposta: eu não estava preparada para ser arrebatada desde o primeiro segundo pelo filme.
A nova versão de Como Treinar o Seu Dragão, dirigida pelo próprio Dean DeBlois, responsável pela trilogia animada, é mais do que um remake com atores de carne e osso: é uma carta de amor aos fãs. Ao mesmo tempo em que respeita o material original, o filme atualiza nuances visuais, aprofunda laços e entrega a aventura como se estivesse dizendo: “relaxa, você ainda pode acreditar em magia — mesmo em 2025 e mesmo que já tenha mais de 30 anos”.

A mitologia da amizade ainda é o centro
Se você conhece a história, sabe o básico: um garoto viking franzino chamado Soluço (Mason Thames) vai contra tudo e todos em Berk, uma ilha onde dragões são inimigos — até ele conhecer Banguela, um Fúria da Noite tão carismático que merecia um reality show só dele.
Mas diferente de outros live-actions que só repetem cena por cena com cara de “isso te lembra algo?”, essa nova versão aposta em conexão emocional real. E isso começa na escalação do elenco.

Elenco: jovens, intensos e com química
Mason Thames é um Soluço menos cartunesco, mais observador e absurdamente humano. Ele não tenta replicar o humor tímido do personagem animado, mas dá à versão live-action uma profundidade emocional — e sim, a vibe “inventor incompreendido” está intacta.
Já Nico Parker, como Astrid, entrega tudo. Sarcástica na medida, guerreira sem perder a ternura (e sem cair em estereótipos girlboss da década passada). A química entre eles funciona tanto nas trocas de farpas quanto no respeito silencioso construído em cena.
E os adultos? Entre os guerreiros de Berk, Stoico, interpretado de novo por Gerard Butler, é quem mais representa a tradição. Mas, diferente da animação, onde ele era só o pai durão, aqui ele aparece mais humano. A rigidez continua, mas com falhas visíveis. Dá pra sentir que ele está tentando acertar com o filho, mesmo sem saber como. Ele lidera com força, mas também com culpa. E a voz de trovão agora carrega um pouco de dúvida junto. Gerard Butler passa tudo isso sem exagero, com pequenos gestos e silêncios. Quando Stoico finalmente baixa a guarda, a cena emociona mais do que muito grito ou explosão. Nesse filme, ele não é só um viking. É um pai tentando aprender.

Dragões: a alma do negócio
Vamos falar da estrela: Banguela.
O CGI aqui é de outro planeta — ou melhor, de outra caverna secreta com renderização de última geração. Banguela continua sendo aquela mistura de gato, morcego, salamandra e criança de 3 anos testando os limites. Os animadores fizeram um trabalho primoroso em manter sua personalidade expressiva sem cair no hiper-realismo esquisito (alô, Cats). Ele continua engraçado, fofo, e assustador quando precisa ser.
E sim, os outros dragões também aparecem. Com design incrível, texturas visivelmente diferentes e movimentos pensados com cuidado. Cada criatura tem um temperamento próprio — quase como se tivessem improvisado em cena.

Visual e direção: épico sem perder a ternura
A direção do live-action de Como Treinar o Seu Dragão é épica, mas sem nunca perder a ternura. A fotografia, naturalmente fria — afinal, estamos em Berk, onde o inverno dura mais que reunião por e-mail — encontra um contraste lindíssimo nas cenas com dragões: nesses momentos, a luz aquece, as cores ganham vida e o mundo inteiro parece respirar junto com os personagens. É um tipo de construção visual que não quer só impressionar, mas acolher.
As sequências de voo são um espetáculo à parte. A câmera não apenas acompanha Soluço e Banguela — ela voa com eles. E faz isso sem perder o foco narrativo, sem virar clipe. Não é só sobre mostrar paisagens bonitas ou efeitos bonitões: é sobre capturar, em cada curva no céu, a confiança sendo construída entre um menino e seu dragão. Em 2025, conseguir esse tipo de intimidade em um blockbuster é quase um milagre cinematográfico.

A trilha sonora, assinada mais uma vez por John Powell, retorna com arranjos novos de temas clássicos que fazem qualquer fã perder o chão. E sim, aquele momento que você acha que vai te emocionar… ele emociona. Quando a flautinha começa e o Banguela deita a cabeça no colo do Soluço, é impossível não sentir o nó na garganta. E você nem vai querer desfazer.
Além disso, os detalhes técnicos são de tirar o chapéu viking. O design de produção acerta ao trazer trajes rústicos que não escorregam na caricatura e cenários que, diferente de muitas adaptações, realmente parecem habitados — você acredita que Berk existe, que aquelas pessoas vivem ali. A mixagem de som também é um charme à parte: cada rugido tem identidade. Dá pra distinguir um sussurro de Fúria da Noite de um alerta dramático de um Pesadelo Monstruoso, o que é prova de cuidado na construção de atmosfera. E tudo isso vem embalado num ritmo narrativo certeiro, que equilibra ação, humor e drama com tempo de respirar.
Vale a pena?
Vale, e muito. O novo Como Treinar o Seu Dragão é um daqueles raros casos em que uma adaptação acerta em cheio. Ele consegue traduzir a magia da animação pro live-action sem perder a alma no processo. É nostálgico, mas não fica preso ao passado. É tecnicamente impressionante, mas ainda assim cheio de calor humano. E acima de tudo, respeita a própria mitologia com um carinho visível em cada detalhe.
⭐ Nota: 5/5
Porque amar um dragão nunca sai de moda. O filme emociona, encanta e entrega exatamente o que a gente espera de uma boa história: verdade, coragem e dragões. É o tipo de filme que faz a gente acreditar que pode voar, mesmo sendo estranho, inseguro ou diferente.
Confira o trailer:
