Talvez eu não consiga pensar nas lembranças da minha existência sem a presença dos personagens de Chaves e Chapolin. As piadas, bordões, referências e qualquer coisa que remeta à série fazem parte de mim. Sempre ao lado da minha mãe e do meu irmão, todo esse universo é parte da nossa vida até hoje.

O primeiro episódio da série Chespirito: Sem querer querendo, da HBO Max, é mais do que uma simples reconstrução biográfica — é um reencontro com as emoções que marcaram gerações inteiras. Assistir ao início dessa produção é como abrir um baú de memórias afetivas cuidadosamente preservadas: cada cena traz de volta a simplicidade, a ternura e o humor que sempre estiveram presentes na obra de Roberto Gómez Bolaños.
Logo de cara, somos transportados para 1981, nos bastidores da Caminhada da Solidariedade, em Bogotá. Ali, com o elenco de Chaves reunido, sentimos a energia única daquele grupo que, mesmo décadas depois, continua tão vivo na memória coletiva. É com essa ambientação calorosa e simbólica que a série já nos conquista — mostrando os bastidores da alegria, sem perder o respeito por quem a criou.
Mas o episódio vai além da nostalgia. Ele nos leva ao passado mais íntimo de Roberto: a infância em 1935, a juventude nos anos 1950 e o início de sua carreira no rádio e na publicidade — tudo apresentado com um ritmo ágil, mas emocionalmente delicado. A série não tenta “modernizar” a figura de Chespirito — ela o humaniza, sem perder o encantamento. Vemos suas angústias, suas escolhas e o lado afetivo do casamento com Graciela Fernández, uma parte pouco explorada de sua história, mas aqui tratada com carinho e profundidade.

O encerramento do episódio, com o elenco indo gravar em Acapulco em 1977, é um acerto emocional e narrativo. É como se a série dissesse: “Você lembra desse momento? Agora veja o que havia por trás.” E funciona. A trilha sonora sutil, os figurinos fiéis e a reconstrução de época são envolventes — mas o maior trunfo está mesmo na alma que o episódio carrega.

Para quem cresceu com Chaves e Chapolin, este primeiro episódio é como voltar à infância por um novo caminho. É impossível não sentir felicidade ao ver os personagens ganhando vida com tanta dedicação. E é impossível não se empolgar ao perceber que essa história, antes escondida por trás das câmeras, finalmente está sendo contada com respeito, sensibilidade e afeto. E digo mais: mesmo quem não é fã de Chaves e Chapolin deve assistir. Roberto era um gênio — e sua história é interessante, inspiradora e humana.
Um primeiro episódio emocionante e cheio de acertos. Para os fãs de longa data, é um presente. Para os curiosos, é um convite ao universo de um dos maiores criadores da televisão latino-americana. Se o resto da série seguir nesse ritmo, teremos algo verdadeiramente especial em mãos.
Já está disponível na Max o primeiro episódio de Chespirito: Sem Querer Querendo, série biográfica de Roberto Gómez Bolaños, que contará com 8 episódios.
