Bailarina: A Revolução Estilizada do Universo John Wick

Ana de Armas as Eve in Ballerina. Photo Credit: Murray Close

Entre tiros, piruetas e cílios postiços intactos

Bailarina chega nesta quinta-feira (05 de junho) como a primeira grande aposta do universo expandido de John Wick, posicionando-se narrativamente entre os capítulos 3 (Parabellum) e 4 da franquia. Mas não se engane: apesar de respirar a mesma mitologia, este spin-off não está interessado em repetir o realismo brutal que consagrou Keanu Reeves. O diretor Len Wiseman — lembrado pela estética dark da franquia Anjos da Noite — troca a precisão marcial por uma ópera estilizada de dor, sangue e beleza plástica. E faz isso com a segurança de quem sabe que está montando um espetáculo, não um documentário de ação.

Desde o primeiro Wick, já sabíamos que este universo não seguia as leis da física nem da lógica — apenas a da estética. Um mundo onde assassinos têm sindicatos, moedas de ouro e hotéis cinco estrelas. Bailarina pega essa premissa e diz: “Legal isso, mas e se a gente colocasse umas danças, umas máscaras e uma paleta de cores digna de um clipe do The Weeknd?”

A Ruska Roma, aquela facção que já parecia um cruzamento entre circo de horrores e ópera russa em Parabellum, ganha mais tempo de tela aqui. E com ela, o balé surge não só como disciplina física, mas como linguagem simbólica — a arte como fachada da violência. A personagem de Ana de Armas não é só uma assassina: é uma dançarina da vingança, moldada na dor e na disciplina. Cada pirueta é uma sentença de morte. E cada cena de luta é tratada como um ato de balé gótico, com figurinos que dariam orgulho à Lady Gaga da fase Alejandro.

Ana de Armas as Eve and Keanu Reeves as John Wick in Ballerina. Photo Credit: Courtesy of Lionsgate

Camp — com orgulho e salto alto

O filme escancara sua estética performática desde o primeiro frame. Figurinos elaborados, cenários expressionistas e uma coreografia que flerta mais com a dança contemporânea do que com o combate corpo a corpo. O camp, aqui, não é acidente — é estética assumida. A seriedade quase solene da protagonista contrasta com a teatralidade do mundo ao redor, resultando numa ópera de ação que é emocionalmente artificial, mas visualmente magnética.

Tudo é tão estilizado, tão consciente de sua própria encenação, que é impossível levar a narrativa ao pé da letra. E está tudo bem: Bailarina sabe disso. Ela se leva a sério, mas não o suficiente para esquecer que, no fundo, está encenando um espetáculo. É aquele tipo de filme que poderia desandar no próprio exagero, mas encontra charme exatamente por abraçá-lo — de braços abertos e com as unhas feitas.

Bolero. Photo Credit: Larry D. Horricks

Ana de Armas: delicadeza letal

Ana de Armas entrega uma protagonista silenciosa, sofrida, mas extremamente eficiente. Sua dor é mais sentida nos olhares do que nas palavras — o que a conecta ao legado emocional de John Wick sem tentar imitá-lo. Não estamos diante de um arco complexo, e o roteiro dá pouco espaço para nuances. Mas vamos ser sinceros: quem precisa de profundidade quando se tem luz neon azul, trilha épica e uma faca escondida no coque?

Ela segura as cenas de ação com segurança física, mesmo quando o texto se apoia mais na pose do que no conteúdo. E honestamente? Funciona. Porque nesse universo, uma pose bem feita vale tanto quanto um monólogo.

Ana de Armas as Eve in Ballerina. Photo Credit: Larry D. Horricks

Conexões com o cânone — mas sem dependência

A presença de personagens já conhecidos, como Winston (Ian McShane), Charon (o sempre elegante e saudoso Lance Reddick) e o próprio John Wick (que aparece por cerca de dois goles de café), ajuda a amarrar a história ao universo oficial. Mas Bailarina não depende dessas aparições. Ao contrário: o filme se esforça — e consegue — construir sua própria identidade dentro da mitologia. Ela dança no mesmo palco, mas com passos próprios.

Tecnicamente, Bailarina entrega boas sequências de ação, mas quem espera a câmera estática e a coreografia visível de Chad Stahelski pode se frustrar. Wiseman prefere cortes rápidos, planos fechados e uma montagem nervosa — menos “artes marciais baléticas”, mais “teatro kabuki com metralhadora”. Pode parecer menos elegante, mas combina com a linguagem operística que o filme escolhe desde o início. Aqui, a ação não é sobre precisão: é sobre espetáculo. E nisso, ele acerta.

Norman Reedus as Daniel Pina in Ballerina. Photo Credit: Larry D. Horricks for Lionsgate

Conclusão: um spin-off com alma própria (mesmo que seja uma alma brega)

Bailarina é uma peça lateral no grande xadrez Wick, mas tem estilo de sobra para justificar sua existência. Não é só um apêndice; é um espetáculo à parte. Sim, é exagerado. Sim, é teatral. Sim, é camp até a alma. Mas sabe o que mais? Funciona. Porque se tem uma coisa que aprendemos nesse universo, é que o estilo sempre fala mais alto — e Bailarina, com seu rímel intacto mesmo após doze tiroteios, tem isso de sobra.

Ana de Armas as Eve in Ballerina. Photo Credit: Larry D. Horricks

Vale a pena?
Se John Wick construiu um templo para o cinema de ação elegante, Bailarina é a performance de dança experimental feita no altar. Pode não agradar a todos os fiéis, mas é uma adição ousada, autoral e deliciosamente estilizada ao panteão. Em vez de replicar o que veio antes, propõe um novo tom — mais performático, mais feminino, mais fabuloso. E isso, para um spin-off, é mais do que se esperava.

Nota: 3,75/5
Estilizado, autoconsciente e corajoso. Um passo fora da curva — de salto, claro. É brega? Com orgulho. Mas te entretém com tanta confiança, sangue e estética que você aceita sorrindo cada pirueta mortal.

Confira o trailer:

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