Sabe aquele tipo de filme que começa como um soco no estômago e termina como um leve beliscão? Pois é, Confinado (Locked, 2025) talvez não entre para a história do cinema, mas também não merece ser jogado debaixo da SUV sem freio onde ele acontece.
Ele entrega… dentro do possível. E às vezes, isso já é alguma coisa.
A HISTÓRIA
Na trama, acompanhamos Eddie (Bill Skarsgård), um ladrão de carros em plena crise existencial que tenta roubar um SUV de luxo — e acaba preso dentro dele. Só que o carro, claro, é uma armadilha tecnológica montada por William (Anthony Hopkins), um vigilante moralista com delírios de justiceiro e tempo de sobra. A comunicação entre os dois rola pelo som do carro, numa espécie de viva-voz do juízo final, onde o que não falta são ameaças, lições de moral e frases motivacionais dignas de um coach desequilibrado. Tudo isso com ar-condicionado digital, estofado de couro, luxo e terror num só pacote.

Crédito: Divulgação / Diamond Films
O começo é promissor: a tensão inicial funciona, o uso do espaço do carro é bem pensado, e a câmera claustrofóbica realmente nos joga junto com Eddie dentro daquele cubo de aço. A direção sabe explorar bem o desconforto, e Skarsgård segura a barra como pode — e olha que é muita barra pra um cara preso entre o banco do motorista e a consciência pesada.
A fotografia e o design de som também trabalham a favor. A primeira cria um contraste interessante entre o mundo lá fora (que a gente mal vê, mas sabe que existe) e o ambiente fechado e sufocante do carro. Já o som contribui com sutilezas: ruídos, silêncios e aquele timbre irritantemente calmo de Hopkins no viva-voz, como se fosse o atendente do inferno dizendo que sua alma será punida após ouvir todas as opções do menu.
Só que… aí vem o famoso “mas”.
Confinado sofre do clássico problema de filme que não sabe a hora de parar. Depois do impacto inicial, ele começa a repetir suas ideias como se estivesse em loop. A cada nova provocação de William, a gente já sabe que Eddie vai berrar, resistir, se arrepender e repetir o ciclo — e o roteiro insiste nisso como se fosse novidade.
Hopkins, quando finalmente aparece de corpo presente, entrega o que pode, mas vamos combinar que ele já esteve mais inspirado. Aqui, parece que topou o papel no impulso e seguiu até o fim com a elegância de quem sabe que não vai precisar justificar isso na próxima coletiva de imprensa.

Crédito: Divulgação / Diamond Films
Ainda assim, Confinado tem seus méritos. A direção é segura em muitos momentos, e a ideia central — de transformar um carro em prisão e palco de julgamento — é original o suficiente pra nos manter interessados. A tensão funciona, o ritmo não desanda por completo, e Skarsgård merece todos os elogios por manter o filme de pé, mesmo quando o roteiro começa a patinar.
JOGOS MORTAS E BLACK MIRROR
É um filme que flerta com Jogos Mortais e Black Mirror, mas sem o peso filosófico de nenhum deles. E tudo bem. Ele não quer revolucionar o gênero. Quer te colocar na posição de quem está sendo julgado por erros passados, enquanto tenta adivinhar se vai conseguir sair dali com a própria pele intacta. E consegue cumprir esse objetivo, mesmo que escorregue no sermão excessivo e num terceiro ato chatinho.
Vale a pena?
Para quem curte suspense de espaço único, tensão psicológica e não se incomoda com um vilão que fala mais do que age. E, convenhamos, entre um blockbuster genérico e um thriller que tenta alguma coisa diferente, eu fico com o que arrisca — mesmo que pare no acostamento.
Tem bons momentos, uma premissa intrigante e uma execução ok. Não muda sua vida, mas dá pra sair do cinema com um leve “hmm, quase”. E às vezes, isso já vale o ingresso.
Nota: 3/5
Confira o trailer:
